Wednesday, May 21, 2014

Perguntar Ofende: O Que É Um Predador?

Acompanho com algum interesse uma serie interminavel de posts de baccoboccadionisio sobre os predadores nacionais (produtores ou importadores) e alguns estrangeiros. La se vao varios anos que desde o website antigo eles alertam os pobres em falta de conhecimento sobre algumas praticas comuns mundo do vinho.



Imagine 3 cenarios (2 e 3 sao veridicos e sao bem comuns!!): Em 1 o produtor de espumante gaucho tem custo de producao de R$ 6.00 (ja pronto para comercio) e vende o vinho ao cliente final por R$ 29.00. Digamos que os consumidores adorem o vinho e consideram que R$ 29.00 seja considerado muito justo pela qualidade em retorno.

Cenario 2 temos um importador que compra um vinho por R$ 70.00 (custo NACIONALIZADO, produto posto no estoque desse importador) e vende a garrafa do mesmo a R$ 85.00. Os clientes compram o vinho, mas nao ficam la satisfeitos com o custo x beneficio da transacao financeira. Aqui todos ficam insatisfeitos.

Cenario 3 temos outro importador mais malandro ou mais antenado que 2 que aproveita a oferta de um produtor na Italia e compra o mesmo vinho que 2 a um custo de R$ 35.00 (NACIONALIZADO e posto no estoque) e vende o mesmo produto por R$ 69.00.

Quem seria o verdadeiro predador aqui? 1 que coloca quase 600% de markup no produto, mas ainda assim agrada o consumidor, 2 que vende um vinho com preco acima do praticado pelo concorrente com margens apertadas ou 3 que se aproveitou de uma oferta boa de compra e nao quis saber de praticar margens ''justas'', ganhando bastante na venda e ainda ferrando o competidor direto que tem o mesmo vinho.

Qual entao he a faixa de lucro ou preco que um produto tem para o produtor/comerciante/profissional ser considerado predador? 

Eu defendo que ninguem esta praticando atos predatorios, mas estao se beneficiando de alguma combinacao de fatores que lhes permite cobrar (lucrar) mais pelo produto e ainda nao ''lesar'' o consumidor. Azar de 2 que nao esta muito por dentro de praticas comerciais rampantes no cenario vinicola mundial. Em um mercado capitalista normal com consumidores cientes do que estao comprando o mercado se ajustaria muito rapido. 

Conheco algumas pessoas que frequentam clinicas (serias) de medicos do cabelo. Os caras cobram uma fortuna pela consulta e vendem no proprio consultorio o shampoo milagroso. R$ 500.00 por uma consulta tem cheiro de predador. Se aproveitam do desespero de mulheres e homens que tem problemas de saude ou genetico (calvice he problema genetico?) na cuca.

Predador de fato he um laboratorio que tem uma posicao monopolista no fornecimento de um remedio para um tipo de cancer especifico. 

Vallet parking por R$ 30.00? Predador, sem duvida. Xicara de cafe por R$ 9.00? Acho que depende. Se for num lugar especializado onde seremos atendidos com toda atencao, o barista ensina e mostra cada passo do cafe.... pode ser um cafe meramente caro. Nao reclamo do cafe carissimo do Coffee Lab, mas prefiro cafe de rodoviaria no interior de Goias que tomar espresso em alguns lugares pseudo-chic que nada oferecem em troca pelo R$. Posso ser trouxa por pagar um cafe a R$ 9.00, mas nao houve uma relacao predatoria. Houve liberdade de escolha. Assim como ocorre no caso do tonto que pais mais de R$ 100.00 por espumante nacional. Compra por que quer, nao porque nao havia escolha.


Li no facebook da Clarice Lispector que o verdadeiro predador he o cidadao que vende servicos ou produtos por precos muito acima dos praticados no mercado ou concorrentes (quando ha alguns) sem que haja beneficios (ou escolhas suficientes) perceptiveis para o consumidor ou cliente.

Quando nosso mercado de vinho for composto de consumidores que saibam o que estao a fazer havera uma revolucao total. Quem nao produzir e vender produtos (ou servicos) a precos ''justos'' ficara bem para tras. Como as carrocas produzidas no Brasil ate 1990, os computadores da decada de 80, os calcados, as roupas, as frutas, os vinhos...

Basta ver o que acontece nos mercados mais evoluidos (Europa, America do Norte, Australia). 



Imagina na copa.



11 comments:

  1. Prezado, confesso que não entendi muito bem a primeira parte de seu comentário a respeito do tema.

    Também tenho acompanhado com muito interesse os posts de Bacco e Bocca. A discussão parece interminável e com inúmeras variáveis.

    Particularmente, como consumidor, eu sempre faço a escolha pelo preço e qualidade. Procuro encontrar um meio termo entre os dois. No caso brasileiro, como eu também já disse, creio que há um componente psicológico na cultura brasileira.

    De um modo geral, as pessoas querem se exibir. É comum vermos pessoas enchendo a boca para dizer que pagaram 300 reais numa garrafa. Os vendedores e produtores, naturalmente, querem explorar essa obsessão do brasileiro “pelo status”, algo um pouco menos comum na Europa. Tenho inúmeros amigos franceses que consideram um absurdo o brasileiro estar disposto a pagar tão caro por uma garrafa de vinho. Enfim, é algo também cultural; além de envolver impostos etc.

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    1. Doni,

      Nao te culpo por nao entender o que esta aqui. Escrevo nao muito bem (tradicionalmente), e em epoca de gripe forte, o raciocinio fica mais fraco que costume.

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  2. E o mesmo caminho tem tomado o ramo cervejeiro. Querem sacralizar o consumo de cervejas artesanais.

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    1. Artesanal e boa qualidade nao tem correlacao perfeita. Quer experimentar meu vinho artesanal?

      Assim como "cozinha afetiva" (Argh!) nao é garantia de otima comida.

      Ate minha mae errava na cozinha.

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    2. sem falar nos restaurantes de "comida caseira".
      Comida caseira eu como eu casa. Pior que isso só 1 fatia abacaxi de sobremesa "cortesia da casa". Rá!

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  3. E no Brasil há um ator deste filme que interfere demais no enredo: o consumidor-ostentador. E numa sociedade em que muita gente passou a poder comprar algumas coisas para tentar mostrar que evoluiu na vida, opredador vai ter mercado eternamente

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    1. Mas se ha intencao e liberdade na escolha, o predador nao é mais predador. Isso que quero dizer. Predador violenta, predador pratica atos que sao contra o desejo do comprador. Ele poe na parede o cidadao.

      Quem compra vinho caro pode ser tonto (como eu no caso do cafe), mas o vendedor nao foi predador.

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    2. Exatamente. Como diria o ditado, "se há cavalheiro é porque há cavalo para ser montado".

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  4. Sinceramente nao vejo Miolo e Geisse como predadores no mercado de vinhos nacionais. Podem ser qdo compram uvas de outros produtores..ate ai eu vou. Agora, predadora no seguimento de vinhos nao reconheço como tal.
    Predador é industria de cervejas como bem citaram aqui.
    Predador é walmart que de so ventilar a possibilidade de entrar no mercado de carros usados nos EUA utilizando basicamente seus mega estacionamentos mexeu com a economia americana.

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  5. antes de tudo: melhoras para a gripe, JR.

    sobre o post daqui e do B&B: seus três exemplos foram ótimos, e eu não consigo chamar os envolvidos (especialmente em 2 e 3) de predadores. não mesmo. mas, ao mesmo tempo, não consigo ver esses três casos como predominantes no mercado.

    então eu te pergunto, porque realmente não sei: a maioria dos importadores / lojas trabalha numa dessas três situações? claro que existe aí a sua fatia de gente com bom senso no mundo, eu só não sei se são majoritários. e se conseguem vender e se manter no mercado.

    abraço!

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    1. Eduardo,

      o mercado trabalha tradicionalmente no compra vende recebe. As margens de muita gente que conheco ficam nos 20 a 30% liquidos. Margem boa? Depende do giro, do tamanho da empresa, dos custos.

      Conheco muita gente tambem que abre empresas grandes sem conhecimento algum de como funciona o mercado, qual tamanho (sic) das taxas, custos, dinamica, recursos humanos, etc.

      Um mercado estranho, onde muito amador que nao sabe fazer conta entra com tanto $$$$ para "investir".

      Fica na sua area que a vida é melhor. SDS

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