Tuesday, June 4, 2013

Estudo vê indícios de que vinho francês tem 'origem italiana'

Oba, adoro uma maquina do tempo. Da BBC Brasil de ontem. Otima leitura!!

O processo de fabricação dos tradicionais vinhos franceses – considerados os melhores do mundo – tem raízes italianas, sugere um novo estudo.
A revelação, que coloca em xeque a origem de um principais símbolos de orgulho nacional da França, além de alimentar ainda mais a rixa histórica que o país tem com a vizinha Itália, foi publicada na revista científica americanaProceedings of the National Academy of Sciences.

Após testes feitos em laboratório, os pesquisadores encontraram vestígios de vinho em ânforas (vasos antigos) que teriam sido importadas dos etruscos, povo que habitou a região onde atualmente se situa a Itália, cerca de 500 a.C.A descoberta baseou-se na análise dos primeiros objetos dos quais se tem notícia usados para produzir a bebida em território francês.
Uma prensa para vinhos localizada na mesma região da França onde foram feitas as descobertas revelou que a bebida conquistou rapidamente o paladar dos franceses e propiciou o surgimento de uma indústria local que conquistaria rapidamente o mundo.
O estudo também verificou que o vinho continha um tipo de resina à base de plantas e pinheiros, o que, segundo os pesquisadores, pode ter ajudado a conservá-lo durante o transporte.
Vinhos franceses / AP
Estudo foi conduzido por pesquisadores americanos e baseou-se na análise de ânforas

Mistério

Os primórdios da fabricação de vinho são cercados de mistério, principalmente porque a bebida deixa poucos marcadores químicos - espécie de ‘pegadas’ - que ajudam cientistas a refazer sua história.
Os primeiros exemplos de vinificação conhecidos – como é chamada a transformação da uva em vinho – remetem a regiões onde hoje se localizam o Irã, a Geórgia e a Armênia.
A partir dessas localidades, a fabricação de vinho moderna teria se espalhado lentamente em direção ao Ocidente até chegar à Europa.
As pesquisas foram conduzidas pelo americano Patrick McGovern, do Museu da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e sua equipe.
Em 2004, ele já havia conduzido experimentos que sugeriam que o vinho à base de arroz tenha se desenvolvido na China ao mesmo tempo em que a bebida começou a ser fabricada no Oriente Médio.
Mesmo assim, detalhes de como o vinho transpôs as fronteiras do Oriente Médio, incluindo para a França, permaneciam pouco claros.
Nesse novo estudo, McGovern e sua equipe tentaram reconstruir parte dessa história.
"É possível que o vinho tenha chegado à França pelo extremo norte do continente, através da Alemanha, pela Romênia", disse ele à BBC News.
"Porém, nossas descobertas fornecem um conjunto definitivo de provas de que a bebida entrou no país pela Itália", acrescentou McGovern.

Análise

As constatações de McGovern e sua equipe vieram após a análise de ânforas encontradas na França, vasos antigos usados pelos gregos para carregar líquidos e sólidos no casco dos barcos.
Os etruscos, uma civilização pré-romana que habitava o atual território da Itália, teriam incorporado a cultura dos vinhos dos fenícios – que espalharam o consumo da bebida pelo Mediterrâneo desde a Idade do Ferro - que usavam, por sua vez, ânforas com fins similares.
Sabe-se que o povo etrusco comercializava mercadorias com o sul da França nessas ânforas – mas ainda não está claro se eles carregavam vinho ou outras mercadorias dentro delas.
A equipe liderada por McGovern focou suas pesquisas na cidade costeira de Lattara, próxima à cidade de Lattes, no sul de Montpellier, onde a importação das ânforas só terminou por volta do período 525-475 a.C.
Eles usaram uma ferramenta analítica de alta precisão, chamada cromatografia, gasosa acoplada à espectrometria de massa, que lista as moléculas absorvidas pela cerâmica das ânforas.
Os resultados mostraram que havia indícios de vinho nela, assim como uma resina à base de pinheiro e componentes herbais.
Mas o que surpreendeu os cientistas foi a descoberta de uma prensa de vinhos, onde as uvas eram colocadas para serem masseradas e seu líquido, retirado.
"Em uma cidade cercada de muralhas como essa, é atípico achar uma prensa de vinhos de um período tão antigo", disse McGovern. "A descoberta de uma prova química na prensa foi uma surpresa".
A descoberta segue um padrão já visto em outros lugares – de que o vinho foi introduzido por um agente externo, mas que a cultural local tratou de buscar cultivar as uvas à sua própria maneira, criando as bases da indústria nacional.
"Dali, a vinificação espalhou-se pelo Rio Reno, videiras foram transplantadas, cruzadas com tipos de uvas mais selvagens e toda a sorte de cultivo se desenvolveu, ganhando o mundo", afirmou McGovern.
"Grande parte do vinho que conhecemos hoje veio dos vinhedos franceses, que derivam do cultivo dos etruscos", explicou. "Ainda há várias lacunas a serem preenchidas, mas estou entusiasmado com os nossas primeiras descobertas."

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