Monday, September 8, 2014

Predadores, Detratores, Ignorantes E O Bambu

Junto da liberdade de expressão e uma conexão disponível vieram as enxurradas de coisas legais e de opiniões cretinas. Quanta m ja falei por ai também.

A cada importação que faco (pouca coisa, somente uma por mês em media) me lembro dos jumentos que adoram falar "importadores multiplicam o preço em euro por  12 e assaltam o consumidor", blah blah.
No minimo o jegue em questão adquiriu a informação junto a outro papagaio (blogueiro, importador, dono de loja, algum tipo cool, insider, know-it-all-fucker).

Nenhuma receita funciona para todos.

Ha importadores e importadores, empresas e empresas, estados e estados, regimes tributários e regimes tributários, produtos e produtos, custos e custos, amantes e amantes.

Todo mês he a mesma m de passar por sufoco na armazenagem (atrasando a entrega he quando ganham mais dinheiro), no fiscal que pede dinheiro para que não se pague armazenagem (acelerando a liberacao), no fiscal que some do porto sem explicação (e precisa? o m he funcionário publico), greve, incêndio em armazém, etc etc etc.

Essa atividade de importação he tao ingrata que TEM QUE DAR RETORNO GRANDE, SIM. Quanto maior o RISCO, MAIOR TEM QUE SER O RETORNO. Caso contrario vamos todos prestar concurso para sermos aspones em alguma prefeitura do interior Bananico.

Um almaviva da vida pode ser importado por qualquer um. LITERALMENTE. Vai la então pagar EUR 80.00 por uma garrafa na Franca e veja por quanto sai aqui no final. Analise quimica, analise disso, retirada de garrafa aleatória, frete, selo, o cacete. Tem que multiplicar por muita coisa mesmo. 

Você que vive falando que importador he isso e aquilo, sai do seu escritório onde somente ali você he gente (por tras de letras e simbolos de uma super empresa voce he foda) e tenta sobreviver como importador "honesto". Faça uma só importação e coloque as margens que acha justo.

Como em toda atividade ha gente que abusa de preços. Ha predadores por todos os cantos do planeta, assim como ha consumidores ignorantes, sem informação. As vezes o cabra tem um vinho em alta demanda (mais recente caso foi um rose de provence que somente porque foi feito pelo Brad Pitt amassando as uvas com nota de euro, custava R$ 150.00. Um lixo carissimo, mas teve procura, muita procura. Dai os caras socam o pau mesmo).

Outro erro classico que cometem he de aplicar o mesmo markup para vinhos de valores diferentes. Vinho de EUR 3.00 ou EUR 90.00 levam o mesmo markup. Nao tem sentido, nao faz o menor sentido. Em toda importacao com precos e rotulos diferentes faz-se necessario uma sintonia de precos ou ate a romantica analise de sensibilidade.


Para não esquecer: Atividade com risco e problemas tao frequentes que precisa remunerar bem. 30% de margem com toda essa inflação mais SELIC e ainda toda dor de cabeça não me parecem um roubo. Venha trabalhar com 10% rodando estoque 3x ao ano e me diga que futuro sua empresa terá.





6 comments:

  1. bela análise, JR. não sou do ramo, como você sabe, mas vejo que o negócio de vinhos finos guarda algumas semelhanças com um mercado do qual entendo um pouco mais, o de peças para carros de luxo.

    como carro no Brasil é sinônimo de status e você *precisa* esfregar o possante na cara do seu vizinho, as marcas capricham em duas coisas: trazer as novidades de acordo com o gosto do tapuia e precificá-las de modo a que ele possa dizer "paguei mais caro que você". que é, no fim das contas, um dos grandes motivos pelos quais os carros custam caro no Brasil: tem quem pague, nem que seja em 60 vezes e sabendo que a viatura vai sair de moda antes do fim do carnê.

    e qual a semelhança maior com os vinhos nisso? as peças. acho que 90% de quem compra carros de luxo no Brasil não sabe quanto custa mantê-lo. uma parte porque não precisa se importar com isso, outra parte porque vai querer adaptar amortecedor de Palio e filtro de ar de Civic, ou então porque vai vender "antes que comece a dar problema".

    o que nos leva a um outro grupo: quem tem um pouco de massa encefálica e perde um tempinho procurando. porque, independente do markup e do risco da atividade, e dos baixos volumes de vinhos finos e carros de luxo que entram aqui, há boas oportunidades que não vão te quebrar a banca. dá pra beber um vinho mais gostoso e bem feito que um Pêra Manca ou um Almaviva por um terço do preço, dá pra manter uma Mercedes-Benz por menos que um Peugeot 307 (eu sou a prova viva disso).

    do lado de trás do balcão, tem quem faça um preço legal (nem que seja em 4x no cartão), dê orientação correta e invista em educar o cliente. e tem quem empurre logo o vinho do Brad Pitt pelo dobro de um Bandol rosé muito melhor. mas será que o enotrouxa vai assumir que não gostou do vinho do sr. Jolie? e será que ele volta a comprar dessa loja?

    meu pai também trabalha com um negócio de risco, só posso dizer que não envolve importação nem mutilações físicas. tanto você, JR, quanto meu pai já viram um monte de concorrentes quebrarem ao longo dos anos por conta do que você disse no seu último parágrafo. tiro meu chapéu para quem fica no mercado, e mais ainda para quem fica e educa o cliente, já que falta a muita gente essa sensibilidade.

    deixo aqui umas leituras, de um outro segmento com coisas em comum:

    http://vida-estilo.estadao.com.br/noticias/moda,moda-ostentacao,1551567
    http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2014/08/nenhuma-marca-de-luxo-ganha-dinheiro-no-brasil.html

    beber vinho bom pode ser corriqueiro na Europa, mas aqui ainda é visto como um luxo... então ainda acho válida a comparação dos mercados. enfim, desculpe pelo longo comentário e se saí um pouco do assunto.

    abraços!

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    1. Me interessei pela parte do mercedes que fica mais barato que um peugeot 308. Um mercedes 2000 entra nessa? Qual seu segredo? Amigo meu vive indo para America trazer peça para o mercedes dele. Grande negocio!

      SDS

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    2. mestre,

      tive um Peugeot 307 por quatro anos, de 2007 a 2011. na revisão que fiz na concessionária Peugeot, em 2010, vieram me cobrar a bagatela de 6 mil reais. como nenhuma marca francesa é vendida nos EUA e mesmo na Europa as vendas não são grande coisa, há pouco mercado de peças paralelas.

      naquela época eu queria ter uma BMW e pensei "se eu pago 6 mil numa revisão de Peugeot, posso pagar 6 mil numa revisão de BMW". descobri um fórum de donos de MB no Brasil, comecei a gostar mais da marca da estrela e no ano seguinte peguei uma CLK ano 99, que está comigo até hoje.

      dá para manter uma MB separando entre 2 e 3 mil por ano, de modo geral (desde que não seja uma classe S ou uma blindada, aí a conta aumenta substancialmente). e tanto para Mercedes quanto para BMW as peças abundam, você pode trazer muita coisa de fora e às vezes até consegue um preço bom por aqui (por exemplo: eu ia trazer um jogo de amortecedores do exterior mas o pessoal da Aldor me conseguiu a um preço campeão).

      dê uma olhada no fórum:

      www.portalmercedesbrasil.com

      pra conseguir peças, além do citado Aldor, já comprei muita coisa no eBay (nunca tive problema, fora pagar imposto em algumas coisas) e várias lojas americanas de peças entregam no Brasil - ou você busca lá mesmo.

      e em SP há bastante mão-de-obra qualificada. o melhor exemplo é a Avanti, oficina especializada que fica ali perto de Congonhas, você deve conhecer pelo menos de vista. cuidam de MBs de qualquer época, o chefe lê em inglês, se mantém inteirado e você pode levar a peça que comprou pra que eles troquem. se fizer questão de fazer seguro, a marca tem uma corretora (Mercedes Seguros) que consegue cotação pra modelos de quase qualquer idade.

      pessoalmente, acho que vale a pena. meu carro tem 15 anos e na época paguei o preço de um Citroën C3 nele. se quiser mais dicas, estamos aí. abraço!

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  2. "beber vinho bom pode ser corriqueiro na Europa, mas aqui ainda é visto como um luxo... "

    Exatamente. O mesmo tem ocorrido com o mercado de cervejas. Está se tornando luxo, moda de ostentação. Aqui em BH, por exemplo, alguns cervejeiros não tem nenhum puder em dizer que produzem para "pessoas que entendem de cerveja". Resultado: o preço sobe em razão das pessoas que querem posar de entendidas e ostentar no facebook rótulos caros.

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  3. Quem aqui nunca ouviu algo do tipo: "que chique você!" logo após ter dito que prefere vinho à cerveja? A pessoa, via de regra, costuma entoar a observação com aquele ar de que você quer ostentar e se fazer de cult. Em suma, quase ninguém costuma aceitar a ideia de que vinho é uma bebida como outra qualquer. Tratam-na como algo sagrado e exclusiva para um grupo seleto de "entendidos". Sinceramente, vejo isso como um dos motivos preponderantes para que o preço do vinho seja tão alto aqui no Brasil.

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    1. Doni, nao sei se melhora sua vida, mas concordo com tudo que escreveu.

      Nao tenho facebook, portanto nao consigo ostentar cervejas caras. RA!

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