Conforme promessa de campanha hoje publico essa entrevista com a Maximo Boschi, vinícola boutique, pequena, mas valente de “Bento” (como eles lá chamam a cidade). Eu me convenci a investir nos espumantes deles quando um dia fiz uma degustação às cegas na minha loja. Não há argumento melhor que total louvor quando um vinho está no escuro. Como ninguém sabe onde fica minha loja fica aqui registrado o compromisso de isenção comercial do Blog.
Aos paulistas fica uma nota lamentável: Todo vinho que entra em SP tem que pagar uma coisa chamada substituição tributária, a famigerada ST. Os vinhos vindos do RGS pagam 32% de ST além dos outros impostos de praxe. Uma pena. O pessoal dos outros estados pode pagar por esses e outros vinhos ótimos da serra por um preço ridículo de baixo.
O espaço é curto e ficou na boca um gosto de "eles sabem muito mais do que está sendo colocado aqui". Não dá para ganhar todas....Enjoy!
P: Renato discorra um pouco sobre sua vinícola, por favor.
A Maximo Boschi surgiu da idéia da minha esposa e de um amigo e, desde o início (1999) o nosso objetivo era de colocarmos à disposição do consumidor produtos diferentes do que havia no mercado, mas de alta qualidade. Para esse ano de 2011 dispomos de apenas 15mil garrafas.
P: Como é vender vinho tão bem feito para pessoas que não sabem do que você fala? Aposto que muitas vezes teve que explicar o que é envelhecimento em contato com leveduras, vinho safrado, evolução, etc etc.
Trabalhei 9 anos numa multinacional e 5 numa empresa familiar e ambas tinham o mesmo objetivo, produtos de referência. Peguei essas experiências e junto com um dos melhores enólogos do Brasil, Daniel Dalla Valle, idealizamos uma proposta de vinhos ousados, de personalidade forte, com característica clássica do velho mundo num país de terceiro mundo e provamos que temos condições de elaborarmos produtos diferenciados. Visionários ou loucos? Os dois!!
P: Brasileiro adora saber de tudo e dar palpite em tudo. Espumante é realmente o vinho para qual o pais tem aptidão agrícola (opa, fazia tempo que não falava essa palavra!!) ou todo ano é possível se obter bons tintos finos? Se sim, onde?
É uma tarefa um pouco árdua, onde é preciso localizar e identificar o consumidor que procura e entende dessa nossa proposta e característica e, aos poucos, estamos identificando. Hoje os localizamos em Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Joinville.
P: De tempos em tempos o clima na serra gaucha colabora para obtenção de bons tintos. Como foi a safra recém colhida?Potencial para…?
O clima às vezes joga a nosso favor. Todos sabemos que nosso clima não é um dos melhores, mas nos adaptamos com as condições que temos e nos últimos 10-12 anos tivemos safras boas. Essa de 2011 foi boa, mas podmeos obter safras ainda melhores com a real dedicação do viticultor
P: Sei de vinhos tintos e espumantes feitos por pequenas vinícolas no RGS principalmente que são muito comentados em eventos, jornais, revistas e etc… são conhecidos pela qualidade e custos ótimos. Por que essas empresas não decolam? Por que não provocam vontade de compra ou de recompra?
As pessoas ainda procuram muito por marca e têem receio do novo. Tem que se permitir a conhecer as grandes novidades.
Num panorama geral podemos dizer que somos o país ideal do e/ou para o espumante. Particularmente se há dedicação, interesse e cuidados podemos ter, também, ótimos vinhos. O que não podemos mudar é a adaptação de certas variedades.
P: O preconceito ao vinho tinto fino nacional tem solução? Qual?
Tem, desde que comecemos a ver os vinhos nacionais com outros olhos. Temos empresas com tecnologia de ponta, nos vinhedos mudas novas, certificadas e a condução das parreiras feita de maneira a termos uvas melhores, remodelação da estética das garrafas, assessorias técnica por enólogos estrangeiros (não sei se influencia!!) e se não bastasse isso em todos os concursos os vinhos nacionais ganham prêmios. Por isso que temos que valorizar um pouco mais o que é nosso.
P: Para incomodar essa: Por que os vinhos nacionais tem custo mais alto que os companheiros da Argentina, Uruguay ou Chile (principalmente os tintos)?
Bom, essa é uma questão que não envolve só o vinho, o Brasil não é competitivo em inúmeros produtos e todos sabemos quais os fatores (impostos, descaminho, falta de incentivo, mão de obra cara, custo Brasil,...) e assim vai.
P: Recentemente li estatísticas mostrando que o consumo de vinho branco nacional fino está desabando. Alguma idéia?
São ondas, fases. Não é só no Brasil é mundial. Todos as pesquisas médicas e seus resultados são em cima dos vinhos tintos e, com isso, o branco fica “esquecido”. Mas o vinho branco tem seu charme, seu momento e, também, seus benefícios à saúde.
P: Em algumas partes do mundo quem era grande esta ficando maior ainda e os pequenos estão sumindo. Aqui no Brasil ainda há espaço ao sol para os talentosos ou será que ficaremos cada vez mais confinados a ter que escolher entre três ou 4 produtos?
Boa. Quem tem a “varinha mágica, bastão” na mão são os consumidores. Se quiserem ter ao seu alcance, bem a mão, produtos diferenciados, produtos específicos para cada momento, produtos com a cara do enólogo ele pode se permitir, senão ficará no padrão básico imposto por três ou quatro.
P: O selo fiscal vai coibir a falsificação e o contrabando em sua opinião? Por quê?
Selo fiscal é atraso de vida. Num país que já está adotando o “olho eletrônico” para controle fiscal, implantar um pedaço de papel manual?!?! É atraso. O Brasil já o usava nas décadas de 60-70 (acho!) e se provou totalmente ineficaz e é exclusivamente arrecadatório.
Segundo Federico Castellucci, diretor da IOV (Organização Internacional do Vinho) quando foi questionado sobre a elevada carga tributária e o excesso de controle ele respondeu: “Não estaria aí a verdadeira causa do descaminho, da sonegação e da falsificação? Não são estes conseqüências da elevada carga tributária que os cofres públicos e a burocracia nos aflige?”
P: Que vinho (uma região, não precisa mencionar marca) você gostaria de ver com os seus numa degustação às cegas?
O primeiro que provei, porque lembro hoje o quão o meu paladar era inexperiente e cru.
P: Através de várias degustações as cegas na minha confraria notamos que muito vinho tinto nacional envelhece bem. Alguns de 91 até hoje estão intactos. Nos parece que os vinhos tintos nacionais tem mais potencial do que imaginamos. Algo a dizer?
está mais do que comprovado. Hoje comercializamos vinhos com 11 anos, mas para isso temos que traçar um projeto de trabalho e “trabalhoso” que se inicia na uva. É ela que nos dá o vinho que queremos e não ao contrário
P: Para finalizar, quando você acha que ao menos uma vez por semana teremos uma garrafa de vinho fino na mesa de cada família -- de classe média que seja -- ?
Espero que as pessoas se permitam provar o vinho, mesmo que seja suave. Ela tem que criar o hábito do consumo e depois, com a nossa ajuda, vamos mostrar que a verdadeira essência do vinho ainda está por vir.